Sobre teólogos e papagaios
Quando era criança tínhamos uma mulata em casa. Não era
necessariamente um papagaio, mas cumpria bem o seu papel em decorar o que
dizíamos repetindo depois. Geralmente, papagaios são assim: repetem boa parte
das palavras que mais dizemos. Estudos mostram que papagaios podem aprender
várias palavras, assobios e outros sons. Eles não são inteligentes, os chamaria
de receptivos.
Depois de crescido (ainda jovem) resolvi estudar teologia.
Fui para um seminário. Confesso, tive professores impressionantes – não dá para
mensurar este adjetivo. Infelizmente, alguns nem sei por que estavam lá –
talvez para testar minha paciência. Porém, insisti e me formei em teologia.
Aulas sempre são aulas. A história da teologia toma conta de
grande parte do conteúdo, isto é informação.
Somente aqueles excelentes
professores – que não estão ali apenas para conseguir sustento, ainda que faça
parte – conseguem conduzir os alunos rumo à instrução.
Todavia, percebi que muitos alunos se alegravam mais com
as informações (repetições de pensamentos de teólogos) do que em serem
instruídos ao pensamento teológico. Nisso surge minha analogia de teólogos
com papagaios.
Papagaios são belos por natureza (mesmo quando são filhotes
esquisitinhos). Mas quando repetem o que dizemos ficamos mais maravilhados
ainda. Parece que aprender a repetir dá um ar de grandiosidade – no caso do
papagaio, esse sentimento fica com seu dono.
Muitos dos alunos que conheci, durante minha caminhada de
aluno, também aprenderam a arte da repetição. A repetição soa como a sabedoria
verdadeira. Quando estes colegas pregavam ou ensinavam em suas igrejas e
conferências, sentia-se neles o ar de superioridade. Porém, repetir não é
saber. Repetir é papagaiar, tagarelar.
Teologar não é meramente repetir o que outros teólogos
disseram. Fazer teologia não é apenas encher-se de informações antigas de
teólogos do passado. Precisa haver mais instrução do que informação. Informação
pode até conduzir à formação, mas apenas a instrução gera transformação. Uma mente teológica, apenas, pode superar o
falatório, e pensar por si mesma.
O teólogo que preza ser chamado teólogo, não se sustenta apenas em concordar com o passado – ainda
que respeite o passado. Ele sempre busca por si mesmo, mesmo que chegue ao
mesmo lugar já chegado anteriormente. Ainda há mais para pensar, há mais para
saber. Essa busca constante faz parte do ser teólogo.
Ter ares de sabedor por repetir informações não faz de
alguém um teólogo – talvez um papagaio (risos). Um teólogo talvez não seja
feito pelo que recebe de informações. Mas sua capacidade em perceber
instruções. Questionar dogmas. Enfrentar a hipocrisia. Não tolerar a letargia
epistemológica. Fugir à mera gnose espiritualista. Aceitar a Palavra de Deus
(Escrituras), porém nem sempre tudo o que se diz sobre a Palavra de Deus.
Pensamentos por mais belos e corretos que sejam ainda são pensamentos, e sempre
podem ser repensados.
Repensar.
Esta é uma capacidade que, particularmente entendo, deve ser cultivada
pelo teólogo. Sempre repensar o que já foi dito e escrito
por outros teólogos - também outros estudiosos. Apenas isso distancia um
teólogo de um papagaio. Aprende
que as informações são úteis, apenas se a instrução fizer parte delas. O
passado auxilia. No entanto, o teólogo não vive no e nem do passado. É um
ser do presente. Que enfrenta problemas presentes com pessoas presentes e reais,
numa igreja atual. Portanto, pensar para hoje, isso faz um teólogo, que me
parece não apenas ser feito por si, mas por todos aqueles que junto a ele
compartilham a graça de crescer no conhecimento e na prática da vontade de
Deus.